|
Apesar dos ventos dos ventos de progresso como a elevação
dos nível de vida da população mirandesa, a aculturação, a escolaridade obrigatória,
as difusão dos mass-média terem contribuído involuntariamente para uma certa
decadência da língua mirandesa, hoje verificamos com satisfação que alguns desses
factores estão a contribuir de uma forma directa e voluntária para a defesa e implemento
da mesma, bem como medidas a nível local e governamental, de onde se destacam as
Aulas de Opção nas Escolas Preparatórias do concelho de
Miranda do Douro, a realização de uma convenção ortográfica, publicações e a
oficialização pela Assembleia da República no dia 17/09/98.
Presentemente, a realidade mostra-nos que essa língua ainda mantém
vitalidade pois é falada por cerca de 15 mil pessoas nas aldeias do concelho de Miranda
do Douro (exceptuando-se a freguesia de Atenor e a cidade de Miranda do Douro) e em duas
freguesias do concelho de Vimioso (Vilar Seco e Angueira), estendendo-se a sua influência
a outras aldeias dos concelhos de Vimioso, Mogadouro e Bragança. É falada no trato
diário e no comércio local, na família e entre vizinhos. Continua a ser, como já o Dr.
José Leite de Vasconcelos verificava nos fins do século passado "a língua do
campo, do trabalho, do lar e do amor entre os mirandeses".
Justamente porque é uma língua mais oral do que escrita, apresenta
uma literatura oral rica: romances de tradição oral, representações teatrais (cascos),
contos, fábulas, quadras, adivinhas,
provérbios, anedotas, diálogos, canções
tradicionais.
Falta uma literatura abundante, moderna e individual que importa
produzir e publicar.
Confinada entre o Português e o Espanhol, não se deixou imiscuir por estas, embora, como
é normal, tenha recebido de ambas, por exemplo, elementos lexicais, em especial do
Português.
A influência do Português é mais forte de que a do Espanhol, pelo
facto de o Mirandês se falar em território de Portugal.
Fruto de factores atrás descritos, algumas pessoas, sobretudo jovens,
deixam de falar a língua de seus pais e avós, embora utilizem o sotaque e alguns
vocábulos mirandeses.
Não obstante, a maioria dos mirandeses falam-na entre si
desinibidamente e usam-na diariamente mas perante pessoas estranhas evitam falá-la e já
desde tempos antigos.
Porém, com a sensibilização que tem vindo a fazer-se nos últimos tempos a população
rural, em especial, fica mais receptiva, deixa de a considerar como a língua do
subdesenvolvimento e passa a vê-la como um valor linguístico-cultural.
Além de ser uma língua perfeita, com todos os elementos que uma
língua pode ter, quer quanto à fonética , quer quanto à morfologia e à sintaxe, é um
legado riquíssimo dos nossos ascendentes com oito séculos de existência; tem vocábulos
cheios de beleza e doçura; cria laços de união, fraternidade, familiaridade, afecto e
bairrismo sadio entre os mirandeses; identifica-os e valoriza-os; enriquece-os
culturalmente; torna-os mais conhecidos, falados e visitados. |
|